25/09/2020

    MENTIRA

Maria não mente.
Tem certeza?
Certeza ninguém tem.
Imagine o João que imaginava que a mulher nunca mentira.
Ela dizia e jurava de pés e dedos juntos.
O João, paladino da verdade.
Não foi ela que disse que a mentira corrói o amor?
Destroça, trucida, não sei mais o quê, este nobre sentimento.
Maria, quantos amores já teve?
Nenhum como o seu.
Maria, já me traiu?
Magina.
Maria, ainda me ama?
Como nunca.
Onde esteve, Maria?
Com você no coração.
Por que demorou?
João, amor não tem hora nem pressa, não tem tempo medido com ponteiros.
Amor é a paz dos segundos que não passam.
E lá ia, o João, ao trabalho, aos ponteiros que não param de passar.
Maria não mente.
João sou seu amigo, toda mulher mente, homens mentem.
Maria não. Como pode o pescoço esguio mentir?
Inverdade na boca de coração colorida em carmim?
A nuca e os arrepios mentem?
Só nas cabeças sujas.
Cabeças sujas criam imagens sujas.
E não é que o João descobriu uma mentira?
Por que, Maria?
Não minto João, nunca menti, você mente a si mesmo.

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